BIOGRAFIA

Marta Pereira da Costa nasce em Lisboa, em 1982. A música entra na sua vida quando inicia a formação no piano, aos quatro anos, e na guitarra clássica, a partir dos oito. No entanto, aos 18 anos, motivada pelo pai, que a leva a uma aula com Carlos Gonçalves – guitarrista de Amália Rodrigues –, tem o seu primeiro contacto com a guitarra portuguesa. Na altura a ingressar numa licenciatura em Engenharia Civil, divide-se entre os estudos e as casas de fado que frequenta, nomeadamente, o Clube de Fado, em Lisboa. “Ainda mal tocava guitarra portuguesa e comecei a aparecer lá, a sentar-me ao lado do Mário Pacheco [guitarrista e gerente da casa] e a aprender umas notas e a tocar cada vez mais. Foi assim que tudo começou”, explica a artista que participou no espectáculo de Mário Pacheco de onde resultou o CD/DVD “A Música e a Guitarra - Clube de Fado”, trabalho editado mundialmente e premiado pela revista “Songlines” como Melhor Álbum do Ano (2005).

Com o corpo na faculdade e a mente na guitarra, procurou beber da sabedoria de outros guitarristas, como Paulo e Ricardo Parreira, Paulo Soares, Pedro Caldeira Cabral, Ricardo Rocha, Bernardo Couto e Fontes Rocha, também músico de Amália e do Clube de Fado – um mentor que Marta considera a sua “maior referência” e “maior inspiração”. “Incentivou-me todos os dias para continuar a tocar guitarra e foi uma sorte muito grande ter podido privar com ele tanto tempo”, diz.

Antes de se lançar em nome próprio, a guitarrista participa nos álbuns do compositor e produtor espanhol Jaime Roldán e do fadista Rodrigo Costa Félix. Com este último, colaborou no disco “Fados de Amor”, o primeiro disco na história do fado onde a guitarra portuguesa é integralmente tocada e gravada por uma mulher e distinguido com o prémio de Melhor Álbum do Ano de 2012, pela Fundação Amália Rodrigues.

Os astros estavam alinhados e, em 2012, Marta Pereira da Costa dedica-se exclusivamente à música e à guitarra, abandonando a carreira enquanto engenheira civil. A sua estreia em palco a solo acontece em Toronto. Com a missão de dar voz à guitarra portuguesa pelo mundo, a artista também passa nesta fase por países como o Brasil, Suíça, Espanha, Holanda, França, Eslovénia, Roménia, Tunísia e Israel. Nos EUA, numa digressão pela costa Leste, que partilha com Rodrigo Costa Félix, destacam-se as actuações no mítico Johnny D’s, em Boston, e no espaço Drom, em Nova Iorque. É também pela América do Norte, por onde viaja mais do que uma vez antes do lançamento do seu primeiro trabalho, que brilha durante uma passagem por Kansas City, cidade referência do jazz mundial, e envereda por dirigir workshops, com Costa Félix, sobre fado e guitarra portuguesa, em universidades e escolas secundárias. A par dos espectáculos, transmitir a arte do seu instrumento foi algo que lhe ofereceu “aprendizagem e conhecimento”.

Em Portugal, apresenta-se no Centro Cultural de Belém e na Casa da Música, entre outras salas nobres do país, em actuações que lhe granjearam estatuto não só no panorama do fado, como no da música nacional. O Prémio Instrumentista, atribuído em 2014 pela Fundação Amália Rodrigues, fruto do seu trabalho, sublinha-o.

Além do extenso e exigente repertório da guitarra portuguesa, que tem mostrado nos seus concertos, Marta arrisca enquanto compositora. Nas constantes idas às casas de fado, que lhe deram “liberdade para tocar, improvisar, experimentar”, encontrou inspiração. Lá, “há lugar para experiências”, revela. Porém, foi quando a realizadora Ana Rocha a desafiou a escrever um tema para uma curta-metragem que “Minha Alma” nasceu. Seguiram-se outras criações, como “Viagem”, “Movimento” e “Terra”, que se tornou o single de apresentação do seu primeiro álbum, homónimo, editado em Maio de 2016, pela Warner Music Portugal. Produzido por Filipe Raposo – “produtor excepcional, um músico muito experiente, com um enorme bom gosto” –, o elogiado disco inclui um naipe de convidados de luxo escolhidos por Marta: Camané, Dulce Pontes, Pedro Jóia e Rui Veloso, as suas referências da música portuguesa, e ainda o baixista camaronês Richard Bona e a cantora iraniana Tara Tiba. O elenco demonstra a vontade da guitarrista em encurtar distâncias entre géneros musicais, dialogando com o fado, o jazz e as músicas do mundo, algo que a distingue.

Na apresentação deste trabalho, num Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, completamente esgotado, uma ideia torna-se clara para a artista: “Sentir aquela energia do público passou a ser viciante”. Reconhecido no universo do fado e fora dele, a estreia em álbum e também, claro, o seu talento abriram caminho para novos desafios, novos palcos, novas colaborações. E o mundo aguardava-a uma vez mais. “Com outra confiança e total transparência”, acrescenta rotas e triunfos ao percurso que ainda agora estava a começar.

Ainda em Portugal, que percorre de norte a sul com primeiro disco na bagagem, destacam-se o concerto de dois sets no festival NOS Alive e o “desafio enorme” de duas horas de actuação para 100 mil pessoas na noite de São João, na Avenida dos Aliados, no Porto. Em frente a um mar de gente, juntaram-se a Marta Pereira da Costa o coro Gospel Collective e o rapper Bezegol, somando simbioses estilísticas à guitarra portuguesa. O mesmo aconteceu, noutras ocasiões, quando se reuniu em palco com um dos maiores nomes da morna cabo-verdiana, Tito Paris, com o saxofonista jazz Ricardo Toscano ou com um grupo de cante alentejano. Marta acredita que “a ideia é mesmo ir abrindo portas, criando pontes e levando a guitarra portuguesa cada vez mais longe”. Do regresso ao Brasil, registam-se a apresentação ao vivo com Toquinho, em São Paulo, e o convite do maestro e violoncelista Jaques Morelenbaum para participar no seu espectáculo no Festival de Jazz de Trancoso.

De 2016 a 2023, a artista continua a cimentar a sua carreira por territórios internacionais e a levar a sua alma e música a lugares como Emirados Árabes Unidos, Espanha, Grécia, Irlanda, Israel, Itália, Luxemburgo, Marrocos, Peru e Senegal. Nos Estados Unidos da América, onde já conta com incontáveis concertos, embarca numa digressão de costa a costa que, em 2019, passa pelo prestigiado Festival SXSW, em Austin, no Texas, mas também por duas datas esgotadas e outros dois momentos marcantes: no Lincoln Center, em Nova Iorque, “tinha duas filas de quarteirões com pessoas que não iam entrar, porque a sala já estava cheia”, e no Kennedy Center, em Washington, D.C., depois da actuação, ficou duas horas a falar com os fãs, que, entre elogios e autógrafos, também lhe esgotaram os CD.

Contudo, nos EUA, há o ponto de viragem na vida de Marta Pereira da Costa: a notável passagem pelo celebrado Tiny Desk da NPR Music (Rádio Pública Norte-Americana) e sua respectiva transmissão global, na recta final de 2023, que conta já com cerca de 1 milhão de visualizações. Nas palavras da artista “foi uma oportunidade enorme, uma porta aberta para poder levar a guitarra portuguesa para o mundo” e de a defender “de uma forma solista e instrumental”, dando-lhe uma voz ainda maior.

2024 é o ano de consolidação de Marta Pereira da Costa que, de Março a Abril, em 35 dias e 12 concertos, deu a volta ao mundo, da Austrália aos EUA, passando por Macau, Hong Kong, Espanha e Reino Unido. Espectáculos que também serviram para rodar e experimentar ao vivo os temas que integram o segundo álbum da guitarrista, com edição a 10 de Maio. “Vai ser um ponto marcante na minha carreira e um momento de afirmação”, sublinha.

“Sem Palavras”, o seu novo longa-duração, é fruto de uma conversa entre Marta e o piano do vencedor de um Grammy Latino, Iván Melón Lewis, gravado em Madrid, no Estúdio Cezanne Producciones, e totalmente interpretado e produzidos pelos dois músicos. O alinhamento integra canções da guitarrista, como o primeiro single, “Dia de Feira”, e clássicos do fado e do jazz.

Ao vivo, “Sem Palavras” torna-se num espectáculo emotivo, sensorial e intimista, em que à música se juntam a dança e a moda. No palco, além da guitarra e do piano, Marta apresenta-se com uma nova imagem pensada pela Dentsu Creative Portugal, cujo foco é um vestido criado pela estilista Constança Entrudo, que, através das cores e dos elementos que simbolizam o movimento, dá coerência à mensagem de Marta: “levar o fado para o mundo e trazer o mundo para o fado”.

Com a sala Suggia da Casa da Música esgotada, Marta deu mais um passo seguro na sua carreira, apresentando ao vivo pela primeira vez e em Portugal o seu segundo disco. Seguiu rumo ao Brasil para actuar no Festival de Fado em Cidades Históricas e para se estrear no mítico Blue Note Sao Paulo partilhando palco com o seu convidado especialíssimo, Jaques Morelenbaum. Mais tarde rumou à Índia, para mais dois concertos e onde regressará já no início de 2025.

Em dezembro atuará a solo com a Orquestra Chinesa de Macau.

“Sei que toco com muita paixão e essa é a minha verdade” é também o manifesto de Marta Pereira da Costa, uma guitarrista com um infindável universo dentro de si.

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